
Introdução
Esse carrd tem como objetivo informar algumas características que pessoas TDAHs podem apresentar, ele não é um guia de diagnóstico e não deve usado como tal, se você se indentificar com diversas dessas características é recomendada a busca de profissionais especializados ou a busca de estudos mais aprofundados sobre. Nem todas as características mencionadas aqui são obrigatórias pro diagnóstico de TDAH, mas todas elas são comprovadas como tendo uma forte ligação e uma porcentagem muito maior de serem encontradas em TDAHs do que em neurotípicos.
Gostaria de informar que esse carrd está sendo escrito por eu, Aled, que sou TDAH e escreveu cada um dos textos. Caso queira tirar alguma dúvida ou corrigir algo meu twitter é @saturnmask. Também quero deixar claro que é possível que tenha alguns erros de português nos textos, mas eles foram revisados pelo meu namorado @freakjosten e por mim.
Disfunção executiva
A disfunção executiva é quando a pessoa tem dificuldade com memória, pensamentos flexíveis, organização e gerenciamento de tempo. Ela pode ser causada por diversos fatores fora do TDAH, mas tem uma grande relação com ele também.Memória:A disfunção executiva tem envolvimento com a memória de trabalho, você pode esquecer pequenos detalhes ou eventos inteiros, pode esquecer algo que precisava em casa ou esquecer o que deveria fazer naquele dia.Organização, planejamento e gestão de tempo:Todas as tarefas que vamos fazer no dia-a-dia precisam de planejamento, organizar o que precisamos para realizar a tarefa e fazer ela em um tempo razoável dentro do necessário, a disfunção executiva afeta todo esse processo. Podemos ter dificuldade em organização, em fazer planos e cumpri-los quando feitos e podemos não conseguir concluir a tarefa no tempo determinado.Também é fácil de ligar que: precisamos de atenção para concluir as tarefas, né? Concentração principalmente, mas com a disfunção executiva pode ser ainda mais difícil fazer isso, às vezes mudamos de tarefa sem nem perceber.Multitarefa e resolução de problemas:Desde criança já é comum a importância de conseguir fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo e resolver problemas, mas a disfunção executiva afeta isso também.
Um dos motivos de parecer difícil resolver problemas é que a disfunção executiva afeta nossa capacidade de ver um problema em mais de uma perspectiva.Existem pessoas que têm disfunção executiva, mas não apresentam todas as características acima, mas é necessário ter pelo menos algumas delas para ter disfunção executiva.Na prática o que ela faz é tornar pra gente muito difícil começar tarefas e terminar as que começamos, existe uma brincadeira dentro da comunidade TDAH onde chamamos a disfunção executiva de prima da procrastinação, mas enquanto na procrastinação nós estamos fazendo outras tarefas com o propósito de adiar uma, na disfunção executiva mesmo querendo fazer algo muitas vezes não conseguimos e até não entendemos o motivo de não conseguir, o que é bem frustrante e nos deixa uma sensação de paralisia ou prisão mental e física mesmo que não estejamos de fato presos.
Permanência de objeto
- Esse texto foi inspirado no episódio 58 da tribo TDAH!Observação: o material sobre esse tema é escasso em correlação com o TDAH.O que é a permanência de objeto?
Um exemplo simples pra explicar ela é: Sabe quando você tá brincando com um bebê, você bota as mãos na frente do seu rosto e pergunta "cadê?!" e quando você tira as mãos e diz "achou!" o bebê ri e parece surpreso? é isso.Mas o que isso significa? É como se quando você cobrisse seu rosto, você deixasse de existir para aquele bebê e isso, esse "notar para existir" faz parte do nosso desenvolvimento. E bom, o TDAH desenvolve isso de uma forma um pouco diferente.Temos uma certa dificuldade em lembrar que algo existe quando aquilo não está na nossa frente (não significa que achamos que quando algo saí da nossa frente ela deixou de existir, mas esquecemos da existência dela).A permanência de objetos é um desenvolvimento natural que começa com 4 meses de vida e em neurotípicos costuma estar completo com 3-4 anos.O bebê cria o senso de que mesmo que ele não esteja sentindo aquele objeto no local (seja com a visão, audição, tato ou olfato) ele ainda existe em algum lugar (e ligação afetiva tem uma influência bem grande no desenvolvimento disso também, como os bebês chorarem pra chamar os pais até entenderem que os pais não vão sumir por estarem longe).Nós que somos TDAHS desenvolvemos a permanência de objeto de uma forma diferente, no cérebro neurotípico existem filtros, o cérebro filtra as várias informações que estão sendo inconscientemente captadas pelos sentidos, já o cérebro TDAH tem uns problemas com essa filtração, nos simplesmente não temos ela então pra lembrar onde as coisas estão se não estiverem de forma imediata na nossa perspectiva de um jeito bem evidente é difícil, e para nós é como se elas meio que deixassem de existir na nossa memória.E isso acontece também com pessoas, podemos esquecer da existência delas ou esquecer dos motivos de gostarmos delas por não estarmos tendo um contato com frequênciaNo TDAH a permanência de objeto acaba nunca sendo completamente desenvolvida, porque nós TDAHS não temos o filtro que eu falei antes, a gente tá sempre captando muitas coisas e processando muitas delas ao mesmo tempo.E eu vou dar o exemplo de: enquanto escrevo isso, tô ouvindo o ventilador, percebendo a luz oscilando na minha visão periférica, ouvindo o barulho do teclado do meu irmão enquanto ele joga, pensando se esse texto não tá ficando grande demais, ouvindo bem longe a voz do meu pai falando com meu irmão mais novo que provavelmente tá assistindo TV, na sensação de calor que tô sentindo que tá me incomodando bastante... e enfim, é muita informação sensorial ao mesmo tempo que torna difícil pra gente desenvolver a permanência de objetos, já que a gente tá prestando atenção em tanta coisa ao mesmo tempo que fica difícil reparar em coisas específicas quando já estamos tão sobrecarregados com várias coisas.E por isso as coisas que não estão perto da gente facilmente parecem só não existir na nossa mente, nosso cérebro não processa a informação, é impossível lembrar e notar tudo que precisa enquanto tá pensando em tanta coisa junto, nosso cérebro não consegue priorizar algo pra lembrar quando aquela coisa nem sequer tava na nossa cabeça naquele momento e isso não é culpa nossa, não temos controle.E um exemplo pessoal meu é que eu tenho problema pra sentir saudade das pessoas, eu sinto (e muita), mas só quando lembro que elas existem e por isso às vezes acham que eu não me importo com elas, eu me importo, só meu cérebro é muito movimentado pra lembrar e processar tanta coisa junta.
Desregulação emocional e disforia sensível à rejeição
Desregulação emocionalPessoas TDAHs tem uma regulação emocional diferente de neurotípicos, podemos sentir as emoções de forma aumentada ou até diminuída quando comparado com o padrão típico, isso significa que somos dramáticos ou insensíveis? Não,
estamos falando de emoções, nós não as controlamos e realmente às sentimos dessa forma. Falando de forma técnica, isso tem ligação com a amígdala do nosso cérebro que é responsável pelas reações emocionais e tomadas de decisões. O cortex frontal também é responsável por filtrar e inibir emoções para que você possa reagir a elas de forma benéfica, no nosso caso essa filtração não ocorre bem e junto com a amígdala gerando emoções mais fortes ou fracas, gera esse caos emocional onde somos mais impulsivos, hipersensíveis e às vezes hiposensiveis.O que isso significa?
significa que TDAHs podem:• Parecer ter uma reação exagerada com o que estiver acontecendo.• Ter dificuldades em se acalmar quando a emoção forte toma conta.• Parecer insensível ou não ter noção dos sentimentos das outras pessoas.A desregulação emocional é um dos maiores motivos de TDAHs receberem diagnósticos errôneos antes do de TDAH já que essa desregulação pode ser confundida com depressão, bipolaridade, borderline e até TEPT, lembrando também que é possível ser TDAH e bipolar ou bordeline e etc, estou falando de casos onde o diagnóstico realmente estava errado e não onde são comorbidades.Por conta da desregulação emocional coisas como um supermercado lotado, algo esgotado, não conseguir encontrar alguma coisa, ser recusade, podem ser gatilhos para uma sensação esmagadora de decepção e frustração, e quando essas emoções tomam conta fica muito difícil parar e pensar "isso é realmente tão importante?", "minha reação está de acordo com o que aconteceu?" e pode ser difícil se concentrar em qualquer outra coisa e superar essa emoção.Essa desregulação facilmente afeta a gente em todos os aspectos da nossa vida, seja sendo mal viste por colegas, pela família e às vezes até por amigos por acharem que somos "explosivos" e "dramáticos".Também pode fazer com que não confiemos nas nossas próprias emoções às vezes, já que depois que a crise passar a gente pode parar e notar que foi algo desproporcional.Disforia sensível à rejeição (DSR)Agora sabendo dessa desregulação emocional imagina que somado com isso você também tem um traço que faz com que o sentimento de rejeição seja ainda pior pra você.Ninguém gosta de ser rejeitade, isso é um fato, mas então o que é a disforia sensível à rejeição?Bom, temos uma sensibilidade muito grande à isso e atualmente nenhum estudo sabe exatamente a causa da DSR e se acredita que sejam diversos fatores que a causam.Uma das possíveis explicações é a negligência na infância, pais críticos demais causam medo da rejeição, do abandono e baixa autoestima. Isso acontece em neurotípicos também, mas como dito anteriormente, imagina isso em alguém que já tem uma desregulação emocional muito grande.Bullying e rejeição em relacionamentos amorosos também podem ter influência na DSR. Também existem crenças de que algumas pessoas possam ter uma predisposição genética.Como funciona na prática? Bom, a ideia de ser rejeitade me apavora então qualquer sinal de rejeição faz com que eu possa ter ideação suicida ou sinta uma raiva desproporcional com a situação.E não estamos falando só do tipo de rejeição de "eu não quero namorar com você" e "eu não gosto de você", não é só o ato de ser rejeitade ativamente que faz a gente sentir isso coisas pequenas como "arruma seu quarto", "fala mais baixo" podem ser lidas por nós como um tipo de rejeição.Costumamos nós culpar e pensar coisas como "Se elu tá falando pra eu arrumar meu quarto é porque eu sou ume bagunceire, não consigo nunca arrumar aquilo, devo ser uma decepção tão grande" e "Puta que pariu eu tô sempre falando alto, qual meu problema? as pessoas devem ficar de saco cheio de mim. Eu tô sempre incomodando". E às vezes até a ideia de rejeição já é o suficiente pra nós deixar apavorades, como por exemplo alguém mudando o tom de voz, demorando pra responder ou respondendo de forma curta já pode fazer a gente achar que estamos sendo rejeitades ou que vamos ser, que a pessoa está brava ou que não gosta mais da gente, que fizemos algo de errado, por isso TDAHs também podem ser vistes como sensíveis demais, chorões ou muito emocionais, as pessoas não costumam entender que essa é a forma como nossa mente funciona e que não fazemos isso de propósito, não controlamos nossas emoções e às vezes nem as reações.A DSR faz com que tenhamos tendência à isolação, a desenvolver fobia social, ansiedade, depressão, baixa autoestima e etc.
Por conta desse medo de falhar, de ser rejeitade, podemos fugir de interações sociais ou relacionamentos, já que ser rejeitade dói tanto que a gente pode tentar evitar qualquer situação que possa nós fazer sentir assim de novo.O TDAH no geral também tem uma tendência a ser perfeccionista e esse é um dos motivos, tentamos evitar a todo custo a rejeição mesmo que tenhamos que mascarar nossas características e emoções, tentando sempre corresponder às expectativas de outras pessoas e às nossas próprias com a idéia de compensar os traços do TDAH.
Também podemos por essa mesma razão procrastinar, já que não queremos fracassar nas coisas por medo da rejeição e do julgamento, podemos encontrar como solução simplesmente não correr o risco. É como dizer: "Não posso ser rejeitade por isso se eu não fizer nada", infelizmente com isso a gente também acaba nos privando de coisas que poderiam ser positivas pra gente ou entrando em problemas por não entregar algo no prazo e etc.
Informações extras
• Neurotípico: Pessoa que não é neurodivergente.• Neurodivergente: Pessoa que foge neurologicamente dos padrões estabelecidos de como nosso neurológico deve ser e funcionar, como TDAHs, autistas, borders e etc.• DSR: sigla de Disforia sensível à rejeição.• Características: Termo usado pra se referir ao que seria conhecido como "sintomas", sintomas são comumente utilizados pra doenças e tem um teor negativo, por isso a preferência pelos termos "características" e "traços". TDAH não é doença, é considerado um transtorno de neurodesenvolvimento e ainda existem discussões no meio médico e ativista sobre a utilização do termo "transtorno" pra classificar neurodivergencias, eu prefiro não me referir a ele assim quando puder.• "ser TDAH": Entendo quem acha estranho quando se lê o TDAH por extenso e não em forma de sigla, mas dizer ser TDAH é uma forma de luta política eu não tenho TDAH, ele faz parte de mim, eu não porto ele, ele não é uma bolsa que eu carrego ou algo que posso tirar e botar, ele é como meu cérebro funciona e isso influência em todos os aspectos da minha vida, dizer isso não significa que estou me resumindo a ele, eu sou muitas coisas.• Será utilizado linguagem neutra diversas vezes nesse carrd, eu sou uma pessoa que faz uso dela então nada mais justo do que me incluir e incluir outras pessoas.• Por mais que existam critérios necessários pro diagnóstico do TDAH, o TDAH continua sendo um espectro onde existem muitas características ligadas a ele que são apresentadas de forma diferente em cada pessoa, principalmente na fase adulta.• TDAHs podem ter dificuldade em aprender com os próprios erros e por isso voltar a repetir, não é porque somos pessoas ruins (mas existem TDAHs ruins também, somos pessoas).• Falta de interpretação, entender as coisas de forma literal e coisas do tipo são comuns no TDAH, não significa que somos "burros", essa é uma consequência de todas nossas características (como impulsividade e hiperatividade mental), usem indicadores de tom pra evitar situações assim.• Também o TDAH tem propensão a ter dificuldades com a escrita, confundindo letras, esquecendo delas, esquecendo palavras, pulando palavras durante a escrita e etc. Isso se dá por causa da nossa mente acelerada e a desatenção, muitas vezes enquanto escrevemos algo já estamos pensando na próxima frase e isso pode gerar essa confusão, não significa que a gente não saiba escrever (às vezes só é difícil). Também temos tendência a memorizar os sons das palavras invés da formação dela com letras e por isso escrever como se fala.
Meltdowns e shutdowns
Meltdowns e shutdownsMeltdown, também podendo ser traduzindo como "colapso" pro português, é uma crise que ocorre quando a pessoa não aguenta mais, quando o estresse "transborda" e pode ser causado pela nossa desregulação emocional e/ou sobrecargas sensoriais, não vou me aprofundar e explicar sobre elas já que existem abas no carrd específicas sobre ambas.Durante um meltdown é possível que a pessoa:• Perca o controle;
• Tenha explosões de raiva;
• Grite e xingue;
• Jogue coisas;
• Pode ficar agressiva principalmente com ela mesma (por exemplo ter stims que causam machucados);
• Chorar excessivamente.Sentimos emoções muito fortes e é difícil de pararmos depois que começa, podendo ser assustador e doloroso pra gente. E pelo amor de deus, não tente tocar na pessoa sem a permissão dela, muito menos segurar ela. Ofereça conforto sem invadir o espaço pessoal, seja dando a ela coisas que você sabe que podem ajudar (como travesseiros caso ela esteja se machucando, é possível usar isso pra evitar os ferimentos ou objetos de stimming e etc) até diminuindo os estímulos sensoriais do ambiente ou levar a pessoa pra um lugar isolado e calmo. Pergunte antes de fazer, não grite com ela, tente manter a calma e diminuir os estímulos a nossa volta caso não seja possível ir pra outro lugar. Meltdowns costumam passar em minutos.ShutdownPode acontecer depois de crises de sobrecarga, brigas, meltdowns e etc.Parecemos "desligar", podendo ficar apáticos, não responder direito ou simplesmente não responder quando falam conosco e nos isolarmos. É basicamente se sentir tão, tão cansade que não consegue fazer mais nada, nem sequer se comunicar normalmente. Quando eu fico assim normalmente quero ficar deitado sem falar com ninguém ou até dormir por horas e horas, comigo acontece sempre depois de interações sociais e sobrecargas sensoriais. Nesses casos você não tem que fazer nada, só nós deixe descansar. Shutdowns podem durar até semanas.Lembrando que essas crises são comuns em neurodivergentes, mas não são exclusivas, apenas raras de acontecer em neurotípicos e costumam ser completamente associadas com pessoas autistas já que é comum no autismo. Também nem toda pessoa TDAH as têm.
De preferência converse com a pessoa antes de qualquer crise sobre como ela gosta de ser abordada e tratada durante as crises, sobre o que ela se sente confortável e o que a deixa pior.
Hipersensibilidade e mais
• Hipersensibilidade, superestimulação e sobrecarga sensorial.Primeiramente vamos diferenciar os termos que frequentemente são confundidos.A hipersensibilidade é quando você é hipersensivel a algo específico (pode ser mais de uma única coisa) e que sempre que você tiver contato com tal coisa ela vai te gerar um desconforto, dor, te deixar sobrecarregade e etc (são diversas as reações possíveis engatilhadas pela hipersensibilidade).Seja essa hipersensibilidade o barulho de alguém mastigando, a textura de uma roupa ou etc, você é hipersensível a essa coisa.A superestimulação é quando um conjunto de coisas te fazem sentir assim, desconfortável, com dor, sobrecarregade.
O que seria um conjunto de coisas? quando você está recebendo estímulos demais ao mesmo tempo, um exemplo disso é você ir a um show onde tem muitas pessoas gritando, conversando, cochichando, muitos cheiros, seja de suor, comida, bebida, onde a luz tá sempre se mexendo e piscando... São tantas coisas te "bombardeando" que é inevitável ficar sobrecarregade com elas, mas se fosse fora de um show tirando todos os outros fatores o cheiro da comida pode não te incomodar, mas naquele momento durante o show ele incomodava muito somado com todos os outros estímulos que você tava recebendo.A ansiedade e estresse podem fazer esse sentimento de sobrecarga ser ainda pior ou até mesmo causar a superestimulação.
É normal que depois da crise de superestimulação ou hipersensibilidade você fique cansade, até exauste emocionalmente e fisicamente.A sobrecarga sensorial é causada pela superestimulação ou pela hipersensibilidade, ela pode nos levar a ter uma crise já que estamos sobrecarregades e muitas vezes é extremamente difícil lidar com essa sobrecarga, imagina você estar sendo bombardeade de estímulos sensoriais (ou de apenas um no caso da hipersensibilidade, o que ainda é algo que incomoda) e não conseguir se afastar, não conseguir parar de ouvir aquele som que tá fazendo todo seu corpo parecer desconfortável e às vezes até fazendo sua cabeça doer, é horrível.
Em mim a última vez que tive uma sobrecarga sensorial eu comecei a chorar sem conseguir controlar porque nada que eu fazia (como botar música no máximo e quase me sufocar em um travesseiro) tava funcionando, eu queria arrancar meus tímpanos fora naquele momento de tão ruim que era.A sobrecarga sensorial pode te levar a um meltdown ou shutdown, crises que foram explicadas em outra aba do carrd, ela pode ser desencadeada por qualquer estímulo que sejamos hipersensíveis ou quando estamos superestimulades, vou dar alguns exemplos dos gatilhos mais comuns, lembrando que o que engatilha uma pessoa pode não engatilhar outra.toque: um toque muito leve, forte ou repentino, qualquer contato físico inesperado no geral como abraços ou tapinhas podem levar a sobrecarga.textura: Certas texturas ou alimentos ásperos podem sobrecarrega o tato. Pra algumas pessoas até a água do banho pode causar isso.cheiro: cheiros fortes, perfumes, detergentes, xampus, alimentos e etc podem incomodar quem têm hipersensibilidade olfativa.visão: luzes fortes ou intermitentessom: fogos de artifícios, conversas simultâneas, música alta, ruídos... a hipersensibilidade auditiva é uma das mais comuns no TDAH.sabor: sabores fortes, certas comidas e a temperatura do alimento.Como as pessoas reagem à sobrecarga é mais individual, podemos parecer reagir de forma exagerada, ter muita mais dificuldade em nós concentrar, não conseguir pensar em outra coisa rapidamente ou mudar de atividade, também pode ser difícil notar coisas novas no ambiente e isso pode causar aquela sensação de sobrecarga quando algo inesperado acontece.
STIMS e ecolalia
• Stims e ecolalia no TDAHo que é?Stims, também conhecidos como estereótipias no português, termo que eu não gosto e não utilizarei aqui, é um comportamento de autorregulação.É quando a pessoa repete certos sons ou movimentos e as razões para stimmar podem ser variadas, mas no geral ele só é prejudicial quando envolvem automutilação ou quando é tanto que interrompe a pessoa nas tarefas diárias, nesse caso é aconselhada a busca de tratamento pra ESSES CASOS. Os stims no geral são positivos e trazem benefícios pra quem os faz, sem falar que neurotípicos também podem apresentar stims, mas normalmente em neurotípicos eles acontecem mais raramente e não são tão "necessários", já pra neurodivergentes costuma ser algo mais importante. No TDAH ele tem ligação com nossa hiperatividade, pode ser uma forma do nosso corpo externar ela, mas não se resume a isso os stims também nos ajudam na concentração, enquanto em neurotípicos é mais comum que pra se concentrar seja necessário ficar parado em TDAHs se movimentar de alguma forma e stimar pode ajudar, como morder o lápis, girar a caneta, caminhar e etc. Os Stims também nós ajudam quando estamos sobrecarregades, seja pela hipersensibilidade ou por causa da nossa desregulação emocional.E existem tipos de stims, vamos lá falar um pouco sobre eles:Visual: Desenhar, andar de um lado pro outro, girar e movimentar objetos, folhear páginas.Verbal ou auditivo: rir em momentos inapropriados ou de forma excessiva, cantar constantemente, repetir sons ou ruídos. Stims verbais costumam ser conhecidos também como ecolalia e podem também se apresentar de forma mental como ficar repetindo uma canção na sua cabeça sem parar.Tátil: Esfregar os dedos, mastigar, se coçar, puxar o cabelo, ranger os dentes, roer objetos ou a unha. Eu tenho um stim tátil de digitar.Outros: encenar cenas de filme repetidamente, escrever algo específico repetidamente e enfim, muita coisa pode se encaixar como stims, sendo um estímulo sensorial repetitivo tá dentro (mas nem tudo é um stim)Um dos stims mais conhecidos é um onde a pessoa balança as mãos pra baixo e pra cima, também existem stims relacionados a equilíbrio como ficar balançando ou girando o corpo.Os Stims podem ser influenciados pelo ambiente, nossas emoções, nossa hipersensibilidade e diversas coisas, ajudando a gente a se concentrar e também manter a calma quando precisamos. Eles também podem ser um hábito já que stimar pra muitos TDAHs e neurodivergentes no geral é prazeroso. Não precisamos parar de ter eles já que eles nós fazem bem, só é necessário interromper quando eles são stims nocivos como mencionado antes. Punir a gente por stimar além de cruel não funciona. Também queria acrescentar que "stim toys" como fidget spinner, fidget cube, pop it e outros foram brinquedos inicialmente criados pra ajudar pessoas neurodivergentes a stimar, já que podemos usar objetos pra isso, não há malefícios em crianças brincando com eles é claro, no geral eles são brinquedos mesmo, mas a forma como as pessoas associaram eles a apenas brinquedos normais, excluindo o fato de que foram feitos pra stims e isso prejudicou por exemplo crianças neurodivergentes que faziam uso de stims toys na escola pra ajudar nos estudos, a se concentrar e não se sobrecarregarem, já que muitas escolas proibiram os stims toys em hora de aula.E sobre o controle dos stims, eles podem ou não podem ser controláveis, isso depende do quão estimulada aquela pessoa está e do stim. Eu consigo controlar os meus, mas muitas vezes sinto uma necessidade muito forte de stimar, é meu corpo geralmente me pedindo pra botar essa energia pra fora e me autoregular.EcolaliaA Ecolalia é a repetição de palavras, frases ou canções imediata ou mais tarde após ter escutado o que foi dito. Ela é uma parte normal no desenvolvimento do ser humano, mas para por volta dos 3 anos de idade quando a criança aprende a se comunicar de forma mais desenvolvida. O que acontece é que em algumas pessoas a Ecolalia não acaba nesse período, normalmente pessoas neurodivergentes.A ecolalia muitas vezes parece sem propósito, mas existem sim motivos pra termos ela.Existem tipos de ecolaliaEcolalia imediata: frases ou palavras repetidas imediatamente ou com um curto atraso.Ecolalia retardada: frases ou palavras repetidas após um tempo significativo.e existem também duas classificações:Ecolalia interativa: usada como uma forma de comunicação.ecolalia não interativa: para uso pessoal (como autorregulação)Também é possível fazer alterações na frase até certo ponto quando estiver sendo repetida, não sendo exatamente a mesma. (por exemplo mudar um "eu" pra "você")A ecolalia pode ser usada por alguém como meio de comunicação quando ela não se comunica da forma típica imposta, no TDAH é comum que tenhamos algo que as pessoas consideram atraso de linguagem e podemos usar a ecolalia, principalmente na infância, como forma de comunicação (não é tão comum a ecolalia nesses casos, mas acontece).A ecolalia também pode ser usada pra treinarmos o que vamos falar pra alguém e uma forma de stimming para autorregulação e aí está a forma como ela na maioria das vezes se apresenta no TDAH: como sendo um stim.A repetição de frases, palavras e canções na própria mente também podem ser vistas como masking da ecolalia.